Ação do Denarc detecta o avanço do crack nas escolas
Operação em 35 colégios da Região Metropolitana fez apreensão 12 vezes maior do entorpecente
Com uma bola de vôlei embaixo do braço, um homem circula sem preocupação entre estudantes próximo a uma escola. A cena passaria desapercebida se dentro da esfera de couro não houvesse crack escondido por um traficante preso pela Polícia Civil durante a Operação Escola 2010, realizada no mês de abril em 35 instituições da Capital e outros municípios da Região Metropolitana.
Além de desbaratar os métodos mais surpreendentes dos criminosos para vender as drogas, a ofensiva do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), divulgada ontem, revelou que o crack começa a estender seus tentáculos para as salas de aula. A quantidade apreendida foi 12 vezes maior do que em 2009. O preço baixo e a facilidade de compra atraem os jovens.
Para o delegado Luis Fernando Martins Oliveira, diretor da divisão de investigação do Denarc, o aumento também se deve à descoberta pelo policiais dos locais onde as drogas eram armazenados.
"Os pais vão ter que assumir os seus filhos", diz médico voluntário da Associação Brasil sem Grades
O médico Jacó Zylbersztejn, um dos líderes da ONG Brasil Sem Grades, entidade gaúcha que defende o combate ao tráfico como forma de acabar com a violência no país, não se surpreendeu com o resultado da operação da Polícia Civil. Para ele, os traficantes estão ganhando a guerra. Ele convoca os pais para que entrem na luta para deter o avanço da droga nas escolas.
Zero Hora – O que o senhor acha do resultado da operação, especialmente com relação à apreensão de crack?
Jacó Zylbersztejn – É uma derrota para a família brasileira. O consumo de crack representa o aumento da violência. Se as autoridades não tomarem uma providência o mais rápido possível, a situação ficará ainda mais calamitosa. O custo será muito alto para nós.
ZH – A operação atestou que os traficantes estão por todos os lados, rondam as escolas. Como combater isso?
Zylbersztejn – Isso vai depender dos pais. Os pais vão ter de assumir os seus filhos. Colocaram no mundo, tem que cuidar. Tem de levar e buscar no colégio, tem de saber com quem andam, com quem conversam, o que fazem.
ZH – A quantidade de dinheiro apreendido reforça a tese que o usuário é fomentador do tráfico. O senhor concorda?
Zylbersztejn – Com certeza. O usuário é a razão de tudo. É a lei de oferta e procura. Eu li que os Estados Unidos reclamaram dias atrás do México pelo aumento do contrabando de drogas pela fronteira. Os mexicanos responderam que era só eles pararem de comprar que o problema acabava. E estão certos. Os pais têm de trabalhar seus filhos para que não consumam. No momento que acabou o consumo, acabou o trabalho dos traficantes.
– Neste ano, conseguimos não só pegar aquele traficante da esquina, que normalmente não tem grande quantidade, mas também avançamos para achar os pontos onde eles escondem o material – afirma.
Os traficantes não atuam na porta das escolas, mas em locais do entorno, como bares, praça e lan houses, atraindo os jovens para a sua teia. Para chegar aos criminosos, os mais de 30 agentes tiveram de se passar por dependentes. Usaram disfarces para ludibriar os criminosos. Circulavam com bermudas, chinelos e até andavam de bicicleta e skate.
– Prendemos muita gente desta forma. Fazia que estava interessado em comprar e quando ele vinha com a droga a gente prendia – apontou.
A quantidade de dinheiro apreendido também surpreendeu o delegado. Em 2009, a operação achou com os criminosos R$ 2 mil. Neste ano, foram R$ 22 mil.
– Com mais droga circulando, mais dinheiro com o traficante. Isso reforça a nossa tese de que o usuário é o grande fomentador do tráfico e da violência – lamenta o delegado.
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